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Mensagem do Exu Tranca Ruas das Almas

Agora, digo “nunca” com a boca cheia, porque a certeza de que você está entendendo o que estou dizendo é como sete mais sete deste um Tranca-Rua, sem sobrenome, aqui na sua frente.

February 2, 2024

Mesmice que cega o vidente, que tudo vê e nada sabe do que está sendo enxergado a um palmo do seu nariz.

As vozes das entranhas do seu cheiro estão ensurdecendo os dignos da alegria do agora.

As badaladas dos tropeços, com os espinhos dos acertos, fazem sua cama para o adiantado da hora.

A noite é sua moça, e o sol é seu irmão, mas…

A madrugada é a mulher-dama que enche os olhos de quem passa pelas ruelas com a mente repleta de álcool e um pouco de promiscuidade.

Nada de vazio para o agora, porque, na sua cartola, somente elefantes saem e se divertem.

Os campos estão cheios de reprodutores aguardando uma chance de serem abortados por suas mãos manchadas de suor — de tanto pensar em comprar a felicidade.

Pare de deixar de entender o que é óbvio: essa imensa loucura lúcida que Os Lusíadas falavam outrora.

Grande herói da história, Pompeu chegou para derrubar as muralhas dos eleitos e fazer nova história.

Nada de homem na lua ou mulher pelada na revista para passar o tempo.

Meu nome é Tranca-Rua e não preciso de sobrenome.

A piada é essa, e a gargalhada é a minha sina: seguir pelo bem, sem machucar ninguém.

Acendo uma vela para o irmão desencarnado, e outra para o satanás que mora em você, com fé de que, um dia, anjos e demônios lutem até serem melhores amigos.

O planeta? Já deixou de existir há muito tempo. Por isso, os sobreviventes não deixam as informações chegarem aos ouvidos de quem, por direito, gostaria de saber: o povo encarnado e sujo de magmas plasmáticos dessa vibração.

Não sou poeta, nem escritor. Meu nome é Tranca-Rua, meu Senhor.

Mais uma lição para o dia de hoje: o nada existe para aquele que deseja ter o todo de qualquer forma.

Não existe sabedor de tudo sem renegar algo e deixar pendências por onde se compromete.

Dedique-se aos afazeres que terá possibilidade de conduzir até o final, sem grandes expectativas para o amanhã incerto.

A chama que acende hoje é para o Orixá — e só quem tem de verdade sabe o que digo.

Muitos são os caminhos que levam a Zambi, no seu patamar superior. Mas poucos entendem os sinais de quando é hora de parar e dedicar-se ao que realmente gosta e satisfaz os seus Eus.

Sim, para alcançar a paz, é necessário ter solidariedade com você mesmo, e depois com você, para então, com você, saber o que você quer.

Nada de egoísmos, nem usurpações de pensamentos e comportamentos…

A vida é feita de arrepios e aprendizados — com os seus erros e com os deslizes do outro, certo de que é certo, mas nada sabe.

Por isso esconde seus medos e mistérios em capas chamadas de entidades fidedignas, para amedrontar os outros com os seus próprios medos e precipitações.

Ah… Nada como saber tudo antes de qualquer atitude.

Nada como saber em qual campo minado está a caminhar, rumo à solidariedade — para, quando o feitiço voltar para o bruxo de branco, você o aguardar de alguidar aberto, pronto para servir uma farofa de dendê com sete velas pretas acesas.

Ah… Que descarrego agradável, meu irmão.

Nunca ri tanto com essas coisas que deixam para mim, sem saber se quero, e se pedi daquela forma.

Simplesmente, chuto a oferenda para ver se algum vampiro de plantão pega e saboreia um alimento puro em desejos materiais.

Acho que hoje falei demais, porque minha língua está coçando por uma pimenta malagueta servida como bebida em sua máxima seiva.

Aprendi a ficar calado, mas também sei dizer as verdades para quem nunca pensou em ouvir.

Sou diferente de alguns que muito dizem e pouco chegam, na encruza, para fazer um bom trabalho.

Agradeço a todos os troféus que deixaram cheios de álcool para o outro, porque terei muito tempo para fazer o bem — enquanto ele enche a cara e fica muito tempo no porre.

Bebo quando eu quiser, e ninguém pode criticar as vezes em que apenas pedi o charuto com gosto de cana.

A maldição dos pobres de espírito é pensar que os seus são sempre maiores que os outros, e que nada que vem de fora pode ser aproveitado no que já tem aqui dentro.

Não quero ter certeza de nada nessa minha vida. Mas, de uma coisa, eu tenho certeza: de que o meu nome ninguém esquece nos momentos de lágrimas e ranger de dentes.

Como sete mais sete: são dois Tranca-Ruas sentados na encruza, esperando o próximo desencarnado.

A lição parece longa, mas está perto do fim.

O fim de entender que saber conversar com entidade é ter respeito e usar a sua sabedoria.

Depois, a fórmula é entregue pelos seus — se realmente os tem — e fortalecida pelo reconhecimento daquele que enchia a boca para ditar ordens e agora baixa a cabeça diante dessas verdades.

Dizer que é entidade é fácil; difícil é assumir posturas verdadeiras e dizer seu nome de batismo.

Dar recado pelos outros é muito bom; melhor ainda é quando o recado vem de você para o outro, olho no olho, sem intervenção.

O espiritual ajuda aquele que abre as portas do pensamento e do coração para boas ações, sem imitações ultrapassadas.

O exemplo do outro faz parte da história de vida que não pertence a você.

Se deu certo para ele, pode ser que o seu caminho seja semelhante — mas nunca igual.

Agora, digo “nunca” com a boca cheia, porque a certeza de que você está entendendo o que estou dizendo é como sete mais sete deste um Tranca-Rua, sem sobrenome, aqui na sua frente.

Boa noite.

Mensagem do livro Águas de Aruanda.

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